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461 bispos, padres e diáconos contra o PL do Aborto: "criminalizar uma mulher vítima de estupro e abuso é violentá-la


Foto: divulgação

Rosa Martins

RM Notícias

"Como seguidores de Jesus de Nazaré, nós padres da caminhada, procuramos conformar a nossa vida aos seus ensinamentos e preocupamos zelosamente com o caráter da comunidade que estamos construindo juntos e com a qualidade de seres humanos em que nos vamos tornando", diz trecho do manifesto divulgado na última quarta-feira, pelo Coletivo dos Padres da Caminhada, composto por 461 diáconos, padres e bispos da Igreja Católica.


O manifesto é um protesto contra o Projeto de Lei 1904/2024 — mais conhecido como PL do Estupro.


“Obviamente, não somos a favor do aborto! Somos sim contra a substituição de políticas públicas por leis punitivas às vítimas de estupro e abuso, imputando-lhes um crime seguido de pena maior do que o dos estupradores”, afirma a nota.


Ainda de acordo com o manifesto, o PL do Estupro “acarreta a grave consequência de penalizar as mulheres pobres que não podem sequer usar o sistema público de saúde”.


“Ademais, a criminalização das mulheres não diminui o número de abortos. Impede apenas que seja feito de maneira segura”, pontua o documento.


Leia abaixo o manifesto:


“Senhoras e Senhores, saudações.


Os que abaixo assinamos, somos dos Padres da Caminhada, um coletivo de quatrocentos e sessenta e um diáconos, padres e bispos da Igreja Católica Apostólica Romana.


Caminhamos juntos em apoio, solidariedade e oração, fazendo nossas as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias do nosso povo brasileiro, sobretudo dos pobres e de todas aquelas e aqueles que sofrem.


Em consonância com os sentimentos da maioria do povo brasileiro, especialmente das nossas irmãs mulheres, reprovamos, repugnamos e nos opomos veementemente ao Projeto de Lei 1904/2024 que ora tramita no Congresso Nacional e que ficou popularmente conhecido como PL dos Estupradores.


Obviamente, não somos a favor do aborto! Somos sim contra a substituição de políticas públicas por leis punitivas às vítimas de estupro e abuso, imputando-lhes um crime seguido de pena maior do que o dos estupradores.


Aliás, ninguém é a favor do aborto, como disse tão sabiamente o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, em recente entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura: “Qualquer pessoa deve ser contra o aborto. Ninguém é a favor do aborto. O papel do Estado é evitar que ele ocorra […] e amparar a mulher que queira ter o filho e esteja em condições

adversas”.


O estupro e o abuso vão muito além do gozo e dos transtornos psíquicos-afetivos. É plantar e fazer florescer no seio da vítima e de sua família por todo o sempre a semente do inimigo como ato de violência e vingança supremas.

Ser contra o aborto, contudo, não pode ser confundido com o anseio em ver a mulher que o pratica, atrás das grades.


Esta “vingança social” acarreta a grave consequência de penalizar as mulheres pobres que não podem sequer usar o sistema público de saúde. Ademais, a criminalização das mulheres não diminui o número de abortos. Impede apenas que seja feito de maneira segura.


Fazemos nossas as palavras de Dom Angélico Sândalo Bernardino: “Simplesmente punir a mulher sem discutir com profundidade uma situação tão complexa é uma leviandade. É uma precipitação legalista. É querer resolver pela lei um problema muito mais amplo e vasto”.


Fazemos nossas também as palavras do Pastor da Igreja Batista da Água Branca, Ed René Kivitz: “Este Projeto de Lei trata com displicência, leviandade, crueldade e irresponsabilidade uma das mais desumanas realidade do nosso país: a violência contra a mulher, o flagelo e a tragédia do estupro, do abuso e da violência e o imperativo ético da proteção à infância, pois o pico de idade das mulheres estupradas no Brasil é treze anos. Crianças… Meninas… Aplaudir e apoiar este PL é trabalhar pela

perversão da religião”.


Como seguidores de Jesus de Nazaré, nós padres da caminhada, procuramos conformar a nossa vida aos seus ensinamentos e preocupamos zelosamente com o caráter da comunidade que estamos construindo juntos e com a qualidade de seres humanos em que nos vamos tornando.


Não construiremos uma sociedade justa, humanizada e humanizadora com base em leis punitivas.


Seremos um país humano e humanizador somente se partirmos da solidariedade e da nossa compaixão e se a nossa justiça “ultrapassar a dos fariseus.”


Que nossos legisladores sejam sinceros e tenham discernimento para perceber a condição sofredora da imensa maioria do povo brasileiro, particularmente das mulheres, e abraçá-las e protegê-las com a mais profunda humanidade. Que tenham sensibilidade para perceber que nossas ruas estão ensanguentadas e nossa infância abandonada e, consequentemente, não elaborem projetos eleitoreiros perversos, brincando com vidas humanas pobres, desvalidas e invisíveis.


Criminalizar uma mulher vítima de estupro e abuso é violentá-la novamente.


Em Cristo Jesus, Nosso Senhor, assinam os membros do coletivo Padres da Caminhada”.


Fonte: RM Notícias


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Sou Rosinha Martins, missionária scalabriniana.

Atuo no jornalismo, na educação, na acolhida, promoção, proteção e integração de migrantes

e refugiados. 

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