Morte no Mediterrâneo: Papa Francisco é uma encíclica de amor que contagia a todos
Francisco com menina imigrante ao colo. Foto: Ansa
POR ROSINHA MARTINS
O mundo sabe da veracidade dos sentimentos do Papa Francisco em relação aos refugiados e imigrantes que, constantemente, fazem uma travessia perigosa e tantas vezes fatal no Mediterrâneo, na esperança de encontrarem uma vida mais feliz na outra margem. Avançar águas profundas nem sempre tem um bom resultado. E Francisco não desvia o olhar dessa realidade, de cada um deles, desde que se tornou o dirigente da Igreja Católica.
Quem não se recorda da sua primeira viagem como Sumo Pontifice? Lampedusa, porto de chegada dos imigrantes, foi o local escolhido no início do seu pontificado. À época as travessias eram muito mais intensas, mas nunca tiveram trégua até este domingo 26 de fevereiro, quando ao menos 43 pessoas vieram a óbito depois de uma embarcação com mais ou menos 200 pessoas se chocarem com recifes e espalhar todos no mar agitado da costa África/Itália à altura da cidade de Crotone, na Reggio Calábria. Segundo a equipe de socorro eram oriundos do Irã, Síria, Iraque e Afeganistão. Entre eles menores e bebês.
Ao visitar Lampedusa em julho de 2013, Francisco ofereceu uma coroa de flores para as centenas e milhares de imigrantes que descansam no Mediterrâneo. Foto: Vaticanews.
Francisco está sentido, está acabado com mais estas mortes e, também, porque não dizer com a insensibilidade de governos extremistas que tem intensificado na Europa políticas de abortamento dos migrantes, como se não bastasse a humilhação de terem que, forçadamente, buscarem uma terra desconhecida. “Esta manhã, soube com tristeza do naufrágio ao largo da costa da Calábria, perto de Crotone. Quarenta corpos já foram recuperados, entre eles muitas crianças”.
A fala de Francisco “rezo por cada uma delas, pelos desaparecidos e pelos outros migrantes sobreviventes”, é uma lição de humanidade para quem tem ouvidos. “Cada uma, significa, cada vida, cada pessoa com sua história, seus sonhos, suas dores e suas esperanças. “Cada uma”, é uma expressão que coloca a pessoa humana no seu devido lugar, a desnumeraliza, tira-a da margem desenhada pelo capitalismo selvagem, engravida-a de dignidade. Francisco é um desses Papas ou o único que faz da sua vida uma encíclica de amor que viraliza e contamina a todos.
Resgatados do naufrágio neste domingo, 26 de fevereiro de 2023. Foto: AP
Enquanto se compadece dos imigrantes, não deixa de rezar e agradecer aqueles que, até contra a vontade do governo italiano vigente, arriscam suas vidas para salvar quem está para morrer: pescadores e pescadoras locais, a guarda costeira e a todos os socorristas pelo árduo trabalho enfrentado em mar agitado. “Agradeço aos que levaram ajuda e aos que estão dando acolhida. Que Nossa Senhora ampare estes nossos irmãos e irmãs”.
Francisco é uma encíclica de amor que contagia a todos. Não é do seu feitio fazer teoria sobre o Evangelho, sua vida, seus atos, suas lágrimas, seu coração é Evangelho. O que mais se precisa exigir de Francisco? E diga-se de passagem, num mundo e, consequentemente, numa Igreja sem referências para a busca do sentido da vida e da paz, ele se torna o nosso porto seguro que nos acolhe a todos, com um olhar especial para os marginalizados da história.
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