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Foto do escritorRosinha Martins

Santa Rita do Sapucaí: “quem pratica o racismo religioso, age para que o outro não exista”


Coroação de Nossa Senhora no Santuário de Santa Rita do Sapucaí. Foto: Portal da cidade


ROSA MARTINS

RM Notícias


A expressão é da antropóloga Ana Paula Miranda da Universidade Federal Fluminense (UFF) em seu artigo ‘Intolerância religiosa: a construção de um problema público’, no qual descreve que no ataque às religiões de matriz africana, mesmo que o agressor não explicite o seu racismo, ele está lá. À primeira vista, a motivação é religiosa, mas o que está por trás é a discriminação racial. Ainda segundo a antropóloga, nas discussões internacionais entende-se esse tipo de ação como crime de ódio, uma classificação que surgiu motivada pelo Holocausto judaico.


O caso de racismo sucedido no santuário de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas levanta mais uma vez a questão sobre a importância do debate sobre o tema no Brasil. Após a missa celebrada em honra de Nossa Senhora de Fátima, a comunidade africana e o padre reitor do santuário foram humilhados e violentados nas redes sociais. Assista:



Ao se manifestar sobre o fato, o arcebispo de Pouso Alegre, pastor do povo de Santa Rita do Sapucaí, o missionário redentorista, dom Luis Majella Delgado, ressaltou que a Igreja católica vive a mesma polarização que a sociedade e aí se encontra o cerne da questão. “A Igreja precisa estar aberta a todos os cristãos. Foi isso que a paróquia fez e não fez nada de novo, muito pelo contrário: ela está vivendo a sua missão de acolher e graças a Deus que acolheu e acolheu tão bem que respeitou a fé daquelas pessoas. Respeitou a cultura, a tradição e a fé, e respeitou, inclusive, colocando em prática a palavra de Jesus, ‘somos todos irmãos’ e colocando também em prática o apelo do Papa Francisco, expresso aos jovens na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, de que “a Igreja é para todos”. É essa Igreja que acolhe, que está de portas abertas. É o que aconteceu em Santa Rita do Sapucaí”, enfatizou o bispo.


De acordo com a advogada Laura Couto, que acompanha o caso, “as autoridades brasileiras estão empenhadas em acabar com discursos de ódio que,  por meio de violência verbal, física e moral, fere os direitos fundamentais da pessoa, uma vez que todas têm permissão liberdade para manifestar a sua crença. E incentiva as vítimas a denunciarem todos os casos semelhantes que possam se repetir. “Ações de denúncia devem ser promovidas em casos de violência e agressões pela internet”.


Os fundamentos dos discursos de ódio na sociedade brasileira


O racismo, como tentativa de eliminação da população negra e sua exclusão das missas, dos cultos, como todas as outras formas de racismo à brasileira que exclui os corpos negros das empresas, dos negócios, da educação, da televisão confinando-os a um não-lugar, têm suas bases no racismo estrutural, no fundamentalismo religioso, no neopentecostalismo e no conservadorismo que, cada vez mais sustentam a ideia de eliminação da diferença.


Para o doutor em sociologia, Guilherme Dantas Nogueira, o racismo religioso é a manifestação de julgamentos prejudiciais que estigmatizam um grupo enquanto elevam outro, conferindo prestígio e supremacia a um “eu” específico em detrimento do outro. A ignorância, o moralismo, o conservadorismo, vivíveis, hoje em dia, frequentemente, no exercício do poder político, são segundo Nogueira as raízes destes atos.


O racismo, do qual se desdobra o preconceito religioso e outras formas de discriminação, não é apenas um problema superficial de comportamento individual, é estrutural por ter suas origens na formação da sociedade brasileira, no período colonial.  Para o debate sobre a intolerância religiosa e o racismo religioso (que, diga-se de passagem, são vertentes diferentes da mesma fonte), é importante olhar para além da ponta do iceberg, das aparências, é preciso aprofundar as causas desse fenômeno social. Quais estruturas e sistemas contribuem para essas questões, como preconceitos embutidos, estereótipos culturais e desigualdade histórica? Por que os negros não estão na TV, nas escolas particulares, nas universidades, nos centros das cidades, nos bairros nobres? Por que não compõe as hierarquias das igrejas, das instituições civis, da política e da economia? Por que os negros e as negras não assumem cargos de chefia? Onde estão os negros e as negras? Onde estão?


É fundamental e necessário distinguir intolerância religiosa de racismo religioso, pois isso ajudará na demarcação das ações racistas que atingem os adeptos e praticantes das tradições de matriz africana. Intolerância religiosa e racismo religioso fazem parte do ódio, da ojeriza pela cultura africana, que perpassa a sociedade brasileira desde a sua origem.


 Entenda a história das festividades ecumênicas em Santa Rita do Sapucaí. A reportagem é do site Terra

 do Mandu. Assista:



Comunicado da Arquidiocese de Pouso Alegre


A chancelaria da Arquidiocese de Pouso Alegre divulgou uma nota na qual reafirma as palavras do Papa Francisco. "amar o Senhor teu Deus...e ao próximo como a ti mesmo". Desejamos que as festividades gerem frutos de amor e unidade em torno daquela que todas as "gerações a chamarão de bem aventurada", certos de que "na Igreja há lugar para todos, para todos" (Papa Francisco, Lisboa 02.08.2023)".

Leia a íntegra:

      Comunidade afro de Santa Rita do Sapucaí, MG, participantes da missa do dia 13 de maio. Foto: Portal da cidade.


Às comunidades paroquiais em Santa Rita do Sapucaí (MG),


A Arquidiocese de Pouso Alegre lamenta a ampla repercussão do fato ocorrido no Santuário Arquidiocesano de Santa Rita de Cássia, em Santa Rita do Sapucaí-MG, nas homenagens prestadas a Nossa Senhora, no último dia 13 de maio. No entanto, desaprova juízos descontextualizados que denotam pouco apreço pela comunhão eclesial, mesmo que sob a aparência de zelo doutrinal.


Além disso, diante da inquietação sincera de muitos católicos, informa que, ouvido o pároco, conclui-se que não houve qualquer intenção de contrariar normas da Igreja ou ferir a sensibilidade dos fiéis: foi algo impremeditado. Na verdade, tais homenagens, organizadas pela própria comunidade, inserem-se no contexto mais amplo da festa da padroeira local. Todos os segmentos da sociedade são fraternalmente convidados a tomar parte. Além disso, a participação do grupo especifico representa a continuidade de uma prática inaugurada pelo saudoso Mons. José Carneiro Pinto (pároco de 1957 a 1997), há décadas.


Vivendo o tempo forte da novena em preparação para a festa da querida padroeira, Santa Rita de Cássia, bem como a Semana da Unidade dos Cristãos, os pastores admoestam os fiéis a se manterem firmes na prática da fé e a alargar o horizonte de "amar o Senhor teu Deus...e ao próximo como a ti mesmo". Desejamos que as festividades gerem frutos de amor e unidade em torno daquela que todas as "gerações a chamarão de bem aventurada", certos de que "na Igreja há lugar para todos, para todos" (Papa Francisco, Lisboa 02.08.2023).


Chancelaria Arquidiocesana.

Pouso Alegre (MG), 16 de maio de 2024.

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Sou Rosinha Martins, missionária scalabriniana.

Atuo no jornalismo, na educação, na acolhida, promoção, proteção e integração de migrantes

e refugiados. 

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