São Paulo resgata história africana e Praça da Liberdade passa a se chamar África-Japão
Filha de escravos alforriados, nasceu em 1909, na cidade de Piracicaba, no interior paulista, Deolinda Madre (Madrinha Eunice) veio à capital aos 11 anos. Sempre viveu nas imediações do bairro da Liberdade, onde, nas palavras da neta Rosemeire, "se criou e se fez".
Foto: Estátua de Madrinha Eunice na antiga Praça da Liberdade./ Google images.
POR ROSINHA MARTINS
Localizada entre a avenida Liberdade, a rua dos Estudantes e a rua Galvão, a praça da Liberdade passa a se chamar África-Japão para celebrar e resgatar a memória dos negros que habitaram a região.
Sancionada pelo prefeito Ricardo Nunes, (MDB) a lei que institui a mudança foi publicada nesta quinta-feira, 1º de junho, no Diário Oficial.
Apresentado em 2020 pelo vereador Paulo Reis (PT), o projeto de mudança justifica que embora seja justa a homenagem à imigração japonesa, é injusto ignorar a presença do negro escravizado na cidade, cujas marcas foram cravadas no bairro que abrigou, por exemplo, o local conhecido como Largo da Forca, exatamente onde está a praça. O projeto reza ainda que os negros escravizados acusados de crimes eram mortos por enforcamento público, ato que durou até o século 19.
A Capela dos Aflitos, que fica no bairro da Liberdade ganhará novo restauro. A construção é o que sobrou do Cemitério dos Aflitos, a primeira necrópole pública da cidade de São Paulo, inaugurada em 1774 e desativada em 1858 com a inauguração do cemitério da Consolação. Seu altar precisa pintura e a escadaria que permite chegar até o sino está corrompida pelos cupins. A porta onde os devotos colocam bilhetinhos para agradecer a Chaguinhas, um santo negro popular, está desgastada pela infiltração que vem do teto. O forro tem marcas de mofo, e as paredes têm rachaduras, além de tinta descascada.
De acordo com o G1, quando a praça teve o nome alterado com o acréscimo de Japão, um advogado descendente de japoneses teceu críticas à mudança, cuja postagem rendeu-lhe mais de 5 mil curtidas. Sua postagem alertava que a alteração desrespeitava o sofrimento dos negros, que no período colonial foram executados no local. “A Praça da Liberdade (agora Liberdade-Japão), muito antes da chegada da comunidade japonesa, se chamava Largo da Forca, pois era palco de execução de escravos negros fugitivos e condenados à pena de morte", dizia a postagem.
Praça da Liberdade, a partir de 1º de junho de 2023, passa a ser África-Japão. Foto/Reprodução: Google street view
Quem foi Francisco das Chagas, o Chaguinhas
Francisco das Chagas, o Chaguinhas, como era conhecido Francisco José das Chagas, foi um militar negro condenado à morte em 1821 após participar de uma revolta que reivindicava soldos atrasados (remuneração militar) e igualdade de valores no pagamento para os militares brasileiros e portugueses. No ano da Independência, foi levado ao Largo da Forca.
De acordo com relatos registrados pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, a corda que mataria Chaguinhas arrebentou duas vezes. O público que assistia à execução pediu clemência às autoridades, acreditando que a salvação seria obra divina. Mas, negado o pedido, Chaguinhas morreu na terceira tentativa de enforcamento. Mesmo não sendo reconhecido santo pela Igreja, o militar tem concedido graças e a fama de santo se espalhou.
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